‘Kids pretos’ desistiram de matar Moraes no dia previsto porque cúpula do Exército não aderiu ao plano

Investigação da Polícia Federal revela trama golpista contra ministro do STF.

Uma investigação da Polícia Federal (PF) trouxe à luz detalhes alarmantes sobre uma trama golpista que tinha como alvo o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes. De acordo com um relatório analisado pela Procuradoria-Geral da República (PGR), equipes formadas por militares das Forças Especiais do Exército, conhecidos como “kids pretos”, planejavam um ataque contra o ministro, mas desistiram do plano após a cúpula do Exército não aderir à ação.

A denúncia protocolada pela PGR no STF nesta terça-feira envolve o ex-presidente Jair Bolsonaro e outros 33 indivíduos, a maioria deles militares, sob acusações de tentativa de golpe de Estado, abolição violenta do Estado democrático de direito e organização criminosa pelos eventos que culminaram nos atos de 8 de janeiro de 2023.

Segundo o relatório da PF, apesar das pressões exercidas pelo grupo golpista, o general Freire Gomes e a maioria dos altos comandantes do Exército mantiveram uma posição institucional firme e se recusaram a apoiar a ação golpista. Essa decisão foi crucial para que o plano não avançasse. “Com isso, a ação clandestina para prender/executar o ministro Alexandre de Moraes foi abortada”, destaca o documento.

Os planos golpistas estavam em andamento desde pelo menos 15 de dezembro de 2022, quando um grupo de seis pessoas monitorava os passos de Moraes em Brasília. Na mesma data, Bolsonaro se reuniu com Freire Gomes no Palácio do Planalto. Um áudio enviado por Mario Fernandes, então número dois da Secretaria-Geral, indicava otimismo quanto à adesão das Forças Armadas ao plano. “Kid preto, algumas fontes sinalizaram que o comandante da Força sinalizaria hoje”, dizia Fernandes.

Entretanto, a negativa do general Freire Gomes frustrou as expectativas do grupo que pretendia agir. O relatório da PF detalha que os membros desse grupo utilizaram carros de aplicativos e celulares descartáveis para evitar serem rastreados e adotaram codinomes relacionados a países como “Brasil”, “Alemanha” e “Japão” para preservar suas identidades.

O ministro Alexandre de Moraes, do STF – Evaristo Sá – 20.set.2023/AFP

A investigação concluiu que havia um planejamento meticuloso para a ação clandestina, que tinha como alvo específico o ministro Alexandre de Moraes. Os seis indivíduos estavam posicionados em locais estratégicos próximos ao Supremo Tribunal Federal e à residência funcional do ministro, prontos para executar o plano.

Este episódio levanta sérias questões sobre a integridade das instituições democráticas no Brasil e ressalta a importância da vigilância contínua contra ameaças à democracia. A PF segue investigando os desdobramentos dessa trama e as implicações legais para os envolvidos.

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