Questionamento surgiu após a forte erupção de ar polar desta semana que trouxe muito frio e neve no Brasil e em países vizinhos.
Inverno ainda pode ter uma nova massa de ar polar intensa? Esta é a pergunta que vem freqüentando as redes sociais da MetSul a partir da onda de frio intensa desta semana que trouxe neve em locais pouco acostumados ao fenômeno, neve por três dias seguidos no Sul do Brasil pela primeira vez desde 2000 e até com acumulação em Santa Catarina, máximas muito baixas e bastante inferiores ao normal para esta época do ano, geada em locais tão ao Norte do Brasil como o Mato Grosso e frio intenso no Brasil Central com mínimas que não eram vistas em algumas cidades da região desde o começo deste século.
No curto e médio prazos, a MetSul não enxerga a possibilidade de uma massa de polar de intensidade semelhante ou igual. Esta primeira semana de julho ainda transcorrerá com a influência do ar polar que ingressou no final de junho e agora com o seu centro de alta pressão sobre o Atlântico. Isso significa dias de tempo aberto e com sol, mas com noites frias e tardes mais agradáveis.
Um novo centro de alta pressão passará a atuar no Centro da América do Sul, o que vai manter o tempo firme e as noites frias na primeira metade da próxima semana. A primeira quinzena de julho, assim, será marcada pelo predomínio do sol com o frio mais concentrado à noite, quando ocorre geada em muitos pontos do Sul do Brasil.
O que os dados indicam é que na segunda metade deste mês poderia haver o ingresso de duas massas de ar frio. A primeira se daria ao redor do dia 15, na transição da primeira para a segunda metade de julho, mas que não seria muito forte. O modelo norte-americano CFS sinaliza que no final do mês poderia haver uma segunda massa de ar de origem polar, esta mais forte que a do dia, mas que pelos dados de hoje não seria tão forte quanto a última.
Três fatos nos levam a considerar a possibilidade de termos frio muito intenso – e talvez até com neve – como o que se sentiu nesta semana ainda neste inverno. Um diz respeito à analogia do que ocorreu no Hemisfério Norte. O outro leva em conta as condições atuais na Antártida. E, o terceiro, considera as projeções para o Oceano Pacífico.
A ANALOGIA DO HEMISFÉRIO NORTE
Estados Unidos (EUA) e Europa experimentaram eventos de muito intenso durante o último mês do inverno climático e o começo da primavera setentrional, mais cedo neste ano. O mês de fevereiro, que corresponderia ao nosso agosto em se tratando do terceiro mês de inverno climático, teve uma poderosa onda de frio no Centro dos Estados Unidos e que foi responsável pelo frio mais intenso desde 1994, afetando principalmente o estado do Texas que teve um colapso energético e neve que chegou à costa do Golfo do México.
Na mesma época, no outro lado do Atlântico, poderosas incursões de ar polar avançaram pelo continente europeu e foram responsáveis pela maior tempestade de neve na Alemanha em uma década e uma destruição pela geada tardia dos vinhedos na França. Estes eventos se deram entre fevereiro e março, o que corresponderia a agosto e setembro no caso do inverno meridional.
Assim, com base no padrão observado no Hemisfério Norte, que no último inverno viu os seus episódios de frio mais intenso ocorrerem no final da estação e no começo da primavera, consideramos a possibilidade que possam ocorrer eventos de frio muito intenso em agosto e/ou setembro como muito factíveis.
O FATOR ANTÁRTIDA
A MetSul chama a atenção para o fato de a temperatura neste momento em grande parte da Antártida estar muito abaixo da média com uma quantidade imensa de ar extremamente frio se acumulando e que está represado em torno do Polo Sul por um cinturão de vento intenso associado ao vórtice polar e à fase positiva da Oscilação Antártica (AAO). A temperatura nesta sexta-feira na Antártida está 4,2ºC abaixo do normal, apesar das marcas muito acima da média na região da península antártica.
Havendo um eventual enfraquecimento deste cinturão de vento com a oscilação passando por períodos negativos, o que somente se é possível prever em mais curto prazo, registra-se o alerta que este ar excepcionalmente gelado da Antártida pode alcançar latitudes menores, tornado factíveis erupções de ar polar de grande a enorme potência alcançando o Cone Sul da América e o Sul do Brasil com frio extremo e neve, assim como outras áreas mais meridionais do Hemisfério Sul como a África do Sul, Austrália e a Nova Zelândia.
Ocorre que o cinturão de vento em torno do vórtice polar na Antártida é muito mais forte, estável e persistente que o que se verifica no Ártico. Por isso, eventos se súbito aquecimento estratosférico com posterior rompimento do cinturão de vento e deslocamento para o Sul do vórtice polar são muito mais freqüentes no Ártico do que na Antártida.
A CHAVE DA PEÇA DO QUEBRA-CABEÇAS NO PACÍFICO
Jamais pode se desprezar o que ocorre no Oceano Pacífico em se tratando da Região Sul no Brasil. Está demonstrado que o resfriamento das águas superficiais do Pacífico na sua área equatorial tem impacto tanto na chuva como na temperatura do Sul brasileiro. Quando há um evento de La Niña há maior propensão a eventos extremos de frio, como se viu entre os anos de 1999 e 2000.
Hoje, o Pacífico encontra-se em estado de neutralidade. O último boletim da Administração Nacional de Oceanos e Atmosfera dos Estados Unidos (NOAA) indicou anomalia da temperatura da superfície do mar no Pacífico Equatorial Central (região Niño 3.4) de 0,0ºC ou absoluta neutralidade. Já no Pacífico Equatorial Leste (Niño 1+2), que tem forte impacto no Sul do Brasil e costuma ter oscilações mais radicais de TSM, a anomalia de temperatura da superfície do mar foi de +0,2ºC.
Modelos climáticos, em geral, indicam uma tendência de resfriamento do Pacífico mais uma vez neste segundo semestre, logo confirmando-se as projeções cresce o risco de que no final do inverno e na primavera ocorram eventos tardios de frio no Sul do Brasil, o que é um risco muito alto para a agricultura à medida que é período final de safra de inverno e começo do plantio da safra de verão.
Via METSUL